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Tipos de dança da ilha de santiago

Funana e Batuke

Breve História do Funaná

Origem​
Evolução
Estrutura
Como dança
Internacionalização do Funaná
Variantes do funaná
Origem

Funa, tocava gaita (acordeão), e Naná sua esposa, tocava ferrinho (barra metálica, originalmente a lâmina de uma enxada, com que se marca o ritmo ao ser friccionada com uma faca ou outro objecto metálico).

A fusão destes dois nomes (Funa+Naná) deu o nome ao estilo musical que hoje é conhecido por Funaná. Assim reza a história a propósito da origem do Funaná.

Entretanto, alguns estudiosos afirmam que a utilização do termo funaná é recente (a partir de fins da década de 50).

Adiantam, que os mais antigos apenas se recordam da expressão badju gaita (baile animado por um tocador de gaita).

Nesses bailes, vários ritmos eram interpretados, como valsas, sambas e mazurcas, de onde se conclui que funaná não é propriamente um ritmo, mas uma maneira de interpretar diferentes estilos musicais.

Conta-se que aos domingos, quando os camponeses se dirigiam à cidade da Praia para vender os seus produtos no mercado municipal, levavam também a gaita e o ferrinho.

O Funaná, música em compasso binário, com andamento duplo, lento-médio e rápido, é assim como todas as outras formas musicais existentes em Cabo Verde, ligado à dança.

Praticado originalmente pelos camponeses do interior da ilha de Santiago, o funaná permaneceu, durante o período colonial, desconhecido até mesmo pela população urbana da ilha.

Nau nau ka nhôs stranham
Mi ê si ki-m fêtu ê Nhôr Déus qui fazem si
Nha boka ka sabi lixonxa
Nha guenti N ka kria na roda di brancos
Sodadi nha kutelu, sodadi Macati
Na mundu N ka podi tchora
Dexa kusas sima sta
Mi ti ki-m intchi N ta pupa nta rabenta pam
M'Bem di fora oi
M'Bem di fora oi
M'Bem di fora oi

Passou depois para a cidade, com algumas mudanças no campo instrumental, ganhando uma certa virtuosidade e enriquecimento a nível harmónico.

Assim como a morna e a coladeira, a musica tradicional cabo-verdiana, ao longo da sua história, tem recebido influência e misturado com ritmos de outras paragens, acabando por dar origem a géneros fortemente caracterizados e enraizados no seu universo.

Hoje o Funaná é um género musical originário da ilha de Santiago e muito apreciado além fronteiras.

Evolução

"Os ritmos assim nascidos traduzem toda a idiossincrasia deste povo e constituem, antes de mais, verdadeiras crónicas vivas e expressivas da sua vida, como companheiros de trabalho, exprimindo a alegria, a nostalgia, a esperança, o amor, a jocosidade, o apego à terra, os problemas existenciais bem como a própria natureza" - Margarida Brito.

Só depois da independência de Cabo Verde em 1975, é que o funaná passa a ser assumido de forma plena como género musical nacional.

Apesar de muito difundido, inclusive, nas roças de S.Tomé e Principe para onde os cabo-verdianos eram levados como contratados para as plantações de cacau e café, alguns estudiosos afirmam que a assunção plena do funaná está ligada ao surgimento do grupo Bulimundo, criado em 1978, por Katchás.

Com instrumentos eléctricos e uma sonoridade mais urbana e moderna, Bulimundo retira o funaná dos limites do regionalismo, lançando-o para o público das outras ilhas e da emigração.

Na década de 80, fase em que se verifica uma verdadeira explosão da produção discográfica da música cabo-verdiana, a sua presença é digna de destaque.

Já nos últimos anos da década de 90, passa-se a uma nova fase, em que a gaita, que na fase de modernização tinha sido posta de parte, surge como instrumento solista acompanhada do velho ferrinho, mas sem desprezar o reforço rítmico do baixo, guitarra e bateria. Um novo filão é então descoberto.

Codé di Dona, Sema Lopi e Bitori Nha Bibinha são veteranos do funaná tradicional que só na década de 90 do século XX conseguem gravar os seus discos, após o sucesso comercial dos Ferro Gaita.

A bo Bitori di Praia Baxu, eh eh ku bu kaxola
Oh oh ka da pa nada, nu ta brinka só iá iá
Mosinhus ka nhos fla nada, eh eh Codé di Dona
Oh oh ku si gaitona, nu ta brinca só iá iá, oh iá iá

Este grupo, criado em 1996, é que dá origem a essa nova fase do funaná, recuperando os instrumentos tradicionais.

Outros nomes nessa linha: Belo Freire, Julinho da Concertina, António Sanches, grupo Petural.

Bulimundo, liderado por Katchás, é o grupo que lançou o funaná eléctrico e electrizante para o público urbano, conquistando o país e a diáspora.

Segue-se o Finaçon, que dura até meados dos anos 90. Em ambos, destaque para a voz de Zeca de Nha Reinalda. Outros intérpretes do funaná eléctrico, mais recentes: Kino Cabral, Beto Dias, Chando Graciosa.

Estrutura

A estrutura da composição do funaná não é muito diferente da estrutura de outros géneros musicais em Cabo Verde, ou seja, basicamente, a música estrutura-se num conjunto de estrofes principais que se alternam com um refrão. Só que, intercalando as estrofes e os refrãos existe um solo executado na gaita.

O acompanhamento é executado com a mão esquerda na gaita, fornecendo os baixos e os acordes.

O modelo rítmico é executado no ferrinho.

A linha melódica do funaná varia muito ao longo da composição, com muitas séries de notas ascendentes e descendentes.

As letras do funaná geralmente abordam situações do quotidiano, fazendo menções às amarguras e felicidades do dia-a-dia, mas também críticas sociais, reflexões sobre a vida e situações idílicas.

Uma característica das letras do funaná tradicional é que a poesia não é feita de um modo directo, mas usa frequentemente figuras de estilo, provérbios e ditados populares.

Isso exige um bom conhecimento da linguagem e cultura populares.

A nível de instrumentos utilizados, na sua forma mais tradicional o funaná emprega apenas a gaita e o ferrinho.

Com a estilização e electrificação do funaná outros instrumentos são utilizados. A rítmica dada pelo ferrinho é executada numa bateria, enquanto que o baixo / acompanhamento executado pela gaita é substituído pela guitarra baixo e pela guitarra eléctrica e a melodia executada pela gaita é substituída pelo sintetizador.

A nível de técnicas musicais não se registam grandes inovações ao «estilo Katchás», talvez apenas no que diz respeito à orquestração devido às inovações tecnológicas e as milagres que um computador faz no campo da música.

Entretanto, não obstante as possibilidades das novas tecnologias, a partir dos fins dos anos 90 assiste-se a um retorno às raízes, onde os conjuntos preferem interpretações com gaitas e ferrinhos adicionando ocasionalmente a viola baixo, uma bateria e/ou uma guitarra.

Como dança

O funaná é um género musical relativamente recente. O próprio nome «funaná» também é recente, e data provavelmente dos anos 60 e 70.

Segundo a tradição oral, o funaná surgiu quando, numa tentativa de aculturação, o acordeão teria sido introduzido na ilha de Santiago no início do sec.XX, para que a população aprendesse géneros musicais portugueses.

O resultado, no entanto, teria sido completamente diferente: seria a criação de um género novo e genuíno.

Não deixa de ser curioso o facto de, mesmo sendo um género musical totalmente diferente, o uso da gaita e do ferrinho no funaná é análogo ao uso do acordeão e dos ferrinhos em certos géneros musicais portugueses como o malhão, corridinho, vira etc...

Como dança, o funaná é dançado aos pares, com os executantes com um braço enlaçando o parceiro, enquanto que com o outro braço mantêm as mãos dadas.

A dança é efectuada imprimindo rápidas e fortes flexões alternadas de cada um dos joelhos, marcando os tempos do compasso.

No modo de dançar mais rural, os corpos estão ligeiramente inclinados para frente (havendo contacto nos ombros), e os pés levantam-se do chão.

No modo de dançar mais urbano, mais estilizado, os corpos estão na vertical (havendo contacto na zona peitoral), e os pés arrastam-se pelo chão.

Internacionalização do Funaná

Inicialmente um género exclusivo de Santiago, durante muito tempo o funaná foi relegado para um contexto rural e/ou para as camadas mais desfavorecidas da população.

Chegou mesmo a ser proibida a sua interpretação na capital, onde era a morna que gozava de prestígio e de um carácter nobre.

Mas durante a década de 70, e sobretudo depois da independência, houve tentativas de fazer ressurgir certos géneros musicais, entre os quais o funaná.

A ideologia socialista do pós-independência, com a luta contra a desigualdade entre as classes sociais constituiu terreno fértil para o (re)surgimento do funaná, que até então era considerado música das camadas mais desfavorecidas.

Essas tentativas não foram muito bem sucedidas sobretudo porque «o funaná não conseguiu desgarrar-se da coladeira».

Foi necessário esperar pela década de 80 para que o conjunto Bulimundo e sobretudo o seu mentor Carlos Alberto Martins (mais conhecido por Katchás) viessem fazer ressurgir o funaná.

Katchás aproveitou os seus conhecimentos de jazz e música clássica para inventar um novo estilo de tocar o funaná, apoiando-se em instrumentos eléctricos e electrónicos, que viria a influenciar quase todos os artistas em diante.

Graças ao sucesso do conjunto Bulimundo, o funaná foi exportado para todas as ilhas em Cabo Verde.

Hoje, o funaná já não é visto como um género exclusivo de Santiago, sendo composto, interpretado e apreciado por pessoas de todas as ilhas.

Se os anos 80 foram os anos da divulgação do funaná em Cabo Verde, os anos 90 foram os anos da internacionalização. O conjunto Finaçon, nascido de uma cisão do conjunto Bulimundo, foi um dos responsáveis pela divulgação internacional deste género musical, graças a um contrato com uma prestigiada distribuidora estrangeira.

Não só o funaná passa a ser conhecido internacionalmente, como é também interpretado por conjuntos musicais no estrangeiro, cabo-verdianos ou não.

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Variantes do funaná

O funaná conta com diversas variantes, nem todas elas bem conhecidas, e nem todas elas conhecidas pelo verdadeiro nome. Eis a descrição de algumas variantes:

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Funaná kaminhu di férru

Esta é a variante mais conhecida do funaná. Geralmente quando se emprega apenas a palavra «funaná», refere-se a esta variante que obteve maior sucesso, sobretudo a nível de dança. Trata-se de uma variante que faz lembrar uma marcha, mas com um andamento vivace.

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Exemplo de funaná kaminhu di férru:

  • «Djonsinho Cabral», tradicional e interpretado por Os tubarões
  • «Sant' Antoni la Belêm», tradicional e interpretado por Bulimundo
  • «Matrialistas» de Kino Cabral
  • «Moças di Mangui» de Eduíno, Chando Graciosa e Bitori Nha Bibinha e interpretado por Ferro Gaita

Funaná maxixi

O nome desta variante provavelmente vem do género musical maxixe que outrora esteve em voga em Cabo Verde. É uma variante parecida com a anterior, mas com um andamento allegro.

Exemplo de funaná maxixi:

  • «Canta cu alma sem ser magoado» de Pedro Rodrigues interpretado por Bana
  • «Pomba» de Codé di Dona
  • «Nôs cultura» de Eduíno e interpretado por Ferro Gaita

Funaná samba

Apesar do nome, esta variante não tem nenhuma relação com o género brasileiro samba actual. Parece tratar-se de uma adaptação do lundum às técnicas do acordeão. O andamento é mais lento (andante) e o ritmo é diferente das outras variantes do funaná, é bastante similar à toada.

Exemplo de funaná samba:

  • «Fomi 47» de Codé di Dona e interpretado por Finaçon
  • «Codjeta» de Kaká Barbosa e interpretado por Simentera no álbum «Raiz»

Funaná morna

Praticamente não é conhecido por este nome, é mais conhecido por como funaná lento. Parece tratar-se de uma adaptação da morna às técnicas do acordeão, com um andamento andante. Enquanto que, durante muito tempo, foi a morna (badju di viulinu) que gozou de prestígio em ambientes urbanos e salas nobres, em ambientes rurais desenvolveu-se, em contraposição, uma variante mais lenta do funaná (badju di gaita). Curiosamente, esta variante tem o mesmo andamento que a morna da Boa Vista e não da morna da Brava.

Exemplo de funaná lento:

  • «Sema Lopi» de Sema Lopi e interpretado por Bulimundo
  • «Li qu' ê nha tchon» de Pedro Rodrigues e interpretado por Os tubarões

 

 


 

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